Quase dois anos após a chegada dos primeiros grupos de africanos na cidade, muitos passo-fundenses já superaram as diferenças e ofereceram um lar para alguns imigrantes. A primeira filha do casal de senegaleses, nascida na semana passada, em Passo Fundo.
Eles vieram a Passo Fundo com a intenção de regularizar a situação do passaporte, na Delegacia da Polícia Federal, e partir para outras regiões em busca do sonho de conseguir trabalho e enviar dinheiro para ajudar familiares no continente africano. Durante algum tempo, andaram em grandes grupos pelas ruas da cidade, com trajes típicos. Por onde passavam, despertavam curiosidade, estranheza e admiração. Passados quase dois anos, muitos daqueles senegaleses receberam o visto e deixaram o Estado, outra parte espalhou-se por diversas cidades do Norte gaúcho, enquanto um pequeno grupo decidiu ficar e conquistar, não somente a confiança, mas também o coração dos passo-fundenses. Cativada pelos imigrantes, aos 68 anos, Ana Tereza Machado, ou simplesmente dona Ana, dá uma aula de convívio com as diferenças cultural, racial e religiosa. Moradora da vila Popular, ela e o marido Romeu Machado, abriram as portas da própria casa para abrigar o casal Mamour e Khady. A amizade entre eles iniciou há um ano e meio, quando o rapaz chegou em Passo Fundo, e se hospedou na pensão da família. Mesmo tendo mudado algumas vezes de endereço durante esse período, o casal de imigrantes nunca perdeu o contato com os antigos amigos. A relação se estreitou ainda mais quando Khady entrou nas últimas semanas de gravidez. Para não deixar ela sozinha, enquanto o marido estava no trabalho, Dona Ana decidiu recebê-los em sua casa e passou a cuidar deles, com o mesmo carinho e dedicação de uma mãe. Tanta generosidade só poderia ser recompensada com um presente muito especial. Na terça-feira, a mulher deixou o Hospital da Cidade trazendo em seus braços, a filha. Uma menina, que pela tradição muçulmana, terá o nome escolhido pela avó paterna no sétimo dia de nascimento. "Minha mãe, que está na África, vai revelar o nome dela na sexta-feira, estou muito feliz" diz o pai. A celebração do nascimento acontece no domingo com o sacrifício de um cordeiro. Pesquisa revela o traço trabalhador dos africanos
A chegada dos senegaleses em Passo Fundo também chamou a atenção do professor João Carlos Tedesco. Doutor em ciências Sociais e professor do mestrado em história na UPF, desde 2009, juntamente com a professora Denize Grybovski, doutora em Administração, ele iniciou a pesquisa Senegaleses em Passo Fundo, com a intenção de analisar a inserção desses grupos no mundo do trabalho. Segundo ele, nos últimos seis anos, o Brasil vem se tornando uma das principais referências da América Latina, para imigrantes, principalmente da Europa e África, muito em razão da legislação branda. No caso dos senegaleses, São Paulo (capital) e a região Norte do Estado, tornaram-se pontos de referências para os grupos, devido à grande oferta de emprego existentes nesses locais. No norte gaúcho, os africanos estão presentes em Erechim, Marau, Getúlio Vargas, Nova Araçá e Nova Bassano, atuando em setores básicos como alimentação (frigoríficos), construção civil, estradas e trabalho informal (ambulantes). Estima-se que pelo menos 200 deles permanecem na região. Ao longo da pesquisa, foram realizadas seis entrevistas coletivas, com grupos de até 23 imigrantes, além do preenchimento de questionários. Os pesquisadores também ouviram alguns empregadores. A maioria elogiou a capacidade e disposição do grupo para o trabalho. Apesar do pouco grau de instrução escolar, muitos foram considerados profissionais com extremo conhecimento e habilidades para determinados serviços. "A grande busca deles é pelo trabalho. O objetivo é juntar o máximo de dinheiro para ajudar parentes na África. São excelentes trabalhadores. Também tem o aspecto religioso, que é bastante forte. A figura do líder espiritual, exerce uma liderança muito importante" explica Tedesco. Ao analisar o impacto causado pelos africanos em Passo Fundo, o especialista afirma que o grande desafio da sociedade regional é entender a dinâmica do mundo moderno da migração. "As pessoas buscam espaços onde é possível sobreviver. É importante destacar que os empregadores não deixaram de oferecer emprego para essas pessoas mesmo não tendo muitas informações sobre eles. Também é preciso dizer que há muita exploração do trabalho. Por serem estrangeiros a barreira da língua e a necessidade de sobrevivência deixam eles mais suscetíveis para uma situação de exploração" explica. Para o professor, a integração social, cultural, e no campo do trabalho, poderia ter outra dimensão, não fosse a característica peculiar de mobilidade dos africanos. A facilidade com que trocam um lugar pelo outro, ou de um serviço, acaba tornando-se obstáculo para os processos de integração na sociedade. Essa situação os coloca na condição de usuários temporários do espaço, sem garantia alguma de continuidade na carreira. Reportagem completa em
Postado por WM Internet
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